A violência contra os
professores é uma triste realidade nas escolas
brasileiras, principalmente nas unidades da rede pública de ensino. Agressões
físicas, verbais, psicológicas, danos ao patrimônio e constrangimentos virtuais,
se tornaram tão comuns no ambiente escolar que a violência se tornou banal
entre os profissionais da educação. E para piorar, professores, escolas, sistemas
de ensino e familiares parecem estar em estado de inércia diante dessa situação,
não se vislumbrando qualquer tipo de reação para enfrentar a questão. Mas uma
coisa é certa, essa paralisia e omissão dos responsáveis pela educação de
nossas crianças e adolescentes não vão ajudar a resolver o problema dos ataques
aos educadores. Portanto, é preciso reagir rápido para enfrentar e reverter
esse cenário catastrófico.
Segundo dados da Pesquisa Internacional sobre
Ensino e Aprendizagem (Teaching and Learning International Survey - TALIS),
realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
o Brasil é o país do mundo onde mais se pratica violência contra professores. Xingamentos,
socos, pontapés, arremesso de objetos, facadas, vandalismo no veículo, ataques
em redes sociais, intimidação e até ameaças de morte, são situações
corriqueiras no cotidiano das escolas pelo país. A presença de estudantes
embriagados, sob efeito de substância ilícitas, armados e traficando drogas no
ambiente escolar, têm potencializado as situações de agressividade e
enfrentamento dos jovens contra os docentes. Um detalhe que chama a atenção é
que as agressões contra os educadores não são praticadas apenas por alunos, mas
também por seus pais e familiares, até mesmo por conta de notas baixas ou
reprovações. Aliás, a fragilidade ou inexistência da parceria entre família e
escola, provocada por pais ausentes e desajustes familiares, é um dos fatores
do agravamento do problema da violência em sala de aula. Enfim, o quadro de
violência contra professores no Brasil é alarmante.
Acontece que o desrespeito, o
enfrentamento, as ameaças e agressões se tornaram tão comuns na rotina escolar
que muitos professores se acostumaram com a situação. Sem saber como proceder,
sem respaldo de ninguém e acreditando que não há muito o que fazer diante de situações
de violência em sala de aula, os docentes preferem relevar os ataques sofridos,
ignorar as atitudes do aluno e fingir que o problema não existe. Até em casos
mais graves, de agressão física ou ameaças de morte, muitos educadores preferem
não registrar boletim de ocorrência com medo de sofrer novas represálias e mais
violência. Infelizmente, a realidade que vivemos hoje no Brasil é de uma
situação de banalização total da violência contra os professores. No entanto,
não é possível continuar trabalhando nesse clima de tensão e stress, é preciso
reagir e enfrentar o problema de frente. Silenciar diante de uma agressão e não
tomar medida alguma não é a melhor forma de resolver a questão da violência no
ambiente escolar.
Por sua vez, as escolas também
não estão sabendo agir em situações de violência e acabam adotando medidas na
tentativa de se livrar do problema ou para abafar os casos de indisciplina. É
comum a direção da escola orientar professores para aprovar alunos
indisciplinados e violentos com a finalidade de se livrar do “problema” o mais
rápido possível. Em casos extremos, é prática costumeira a direção agir para
tentar amenizar o episódio de conflito, induzindo o professor a não registrar
boletim de ocorrência com o objetivo de abafar o caso e evitar a geração de
publicidade negativa a escola. Há ainda aquelas situações nas quais a direção
convida os pais ou responsáveis para transferir o aluno de escola. Enfim, todas
as ações são realizadas na perspectiva de se livrar do problema ou fingir que
ele não existe, ao invés de enfrentar e tentar resolver a questão. Na verdade, percebe-se
claramente que a maioria das escolas não possuem planos, projetos ou programas visando
a prevenção e o combate a violência escolar.
Essa omissão de professores e
diretores em registrar e enfrentar os casos de violência na sala de aula tem
gerado uma subnotificação desses episódios. Tal omissão pode ser estendida aos
sistemas de ensino, que não realizam o registro sistemático dos episódios de
violência ocorridos nas escolas de suas redes, não desenvolvem estudos internos
visando promover um adequado diagnóstico do problema e não executam planos de
ações visando a prevenção e o combate a violência em sala de aula. A verdade é
há uma grande falta de atenção a temática da violência contra educadores no
sistema educacional brasileiro. Assim, temos uma omissão coletiva, na qual todos
sabem da existência do problema, mas ninguém toma providências no sentido de
resolver a questão. Pois bem, se as pesquisas já colocam o Brasil como o primeiro
do ranking em violência contra os professores, mesmo com essa subnotificação
das ocorrências, imaginem então se todos os casos fossem devidamente
registrados?! Isso nos leva a crer que a situação de violência contra os
docentes pode ser ainda mais grave do que apontam os estudos recentes.
Tal situação de omissão e falta
de ação em relação ao tema da violência contra os professores não pode ser
prolongada, é preciso reagir e enfrentar a questão de frente, urgentemente. Os
profissionais da educação não podem aceitar passivamente esse cenário de
banalização da violência na escola, pois atos violentos contra educadores não podem
ser encarados como algo comum e sem importância. Os sistemas de ensino e as
escolas não podem continuar inertes em relação ao registro, estudo, prevenção e
combate a violência contra os docentes. As famílias não podem permanecer
ausentes e indiferentes aos episódios de ataques cometidos por seus filhos
contra os professores. Está evidente que se omitir e fingir que o problema não
existe não é o melhor caminho para solucionar esta grave situação presente no
ambiente escolar. Certamente, a omissão dos atores envolvidos no processo
educacional não vai contribuir para resolver o problema da violência contra os
professores. Portanto, é necessário que haja uma mudança de postura em relação
as agressões, é preciso agir, sem medo e rápido!
Ricardo
Alexandre Pereira
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