Anúncio do Instituto Universal Brasileiro em revista. Criado em 1941, o Instituto oferecia ensino a distância por correspondência |
Nesses primeiros anos do século XXI a educação a distância cresceu significativamente no Brasil. O número de instituições de ensino que trabalham com a modalidade EAD e a quantidade de cursos oferecidos aumentaram, provocando um crescimento expressivo no total de alunos matriculados em cursos a distância. As universidade públicas aderiram a modalidade EAD e as instituições privadas que se dedicavam exclusivamente ao ensino presencial também passaram a ofertar cursos na versão a distância. O poder público, enfim, passou a dar atenção a essa modalidade de ensino regulamentando a EAD através do Decreto nº 5.622, de 19/12/2005, e criando uma universidade pública exclusiva para a educação a distância, a Universidade Aberta do Brasil - UAB.
Utilizando a gíria dos dias atuais podemos dizer que a educação a distância está bombando no Brasil. Porém, se enganam aqueles que pensam que essa modalidade de ensino é algo recente, da era da internet e fruto dos avanços tecnológicos. A EAD não é uma modalidade nova de ensino. Para se ter uma ideia, há estudiosos do assunto que sugerem que a educação a distância foi criada na Antiguidade (Grécia e Roma). Assim, antes de analisar em mais detalhes as transformações por que passou a EAD no Brasil nos últimos anos, apresentarei um breve panorama a respeito do surgimento da educação a distância no mundo e o seu desenvolvimento histórico no Brasil.
O desenvolvimento de uma ação institucionalizada de educação a distância tem início no século XIX, porém, há indícios históricos de que essa modalidade de ensino já era praticada no século XVIII. Há ainda estudiosos do tema que acreditam que a educação a distância teria se iniciado na Idade Média, enquanto outros vão mais longe, sugerindo que a prática de ensinar a distância teria surgido na Antiguidade. Assim, fica evidente que existe uma divergência entre os pesquisadores do assunto quanto ao fato que pode ser considerado o marco do surgimento da educação a distância.
Segundo Araújo e Maltez¹, na Antiguidade, primeiro na Grécia e depois em Roma, cartas comunicando informações científicas trocadas através uma rede de comunicação por correspondência, inauguraram a modalidade a distância de ensinar. Já Rodrigues (1998) nos apresenta a tese defendida por alguns autores de que a educação a distância teria surgido na Idade Média com a invenção da imprensa e com as mensagens trocadas pelos cristãos para ensinar os discípulos. Sobre isso, Rodrigues afirma que:
Landim (1997) sugere que as mensagens trocadas pelos cristãos para difundir a palavra de Deus são a origem da comunicação educativa, por intermédio da escrita, com o objetivo de propiciar aprendizagem a discípulos fisicamente. Alves (1994) compartilha da opinião de Landim, ao defender a tese que a educação a distância iniciou com a invenção da imprensa².Já para os autores que defendem a tese de que a educação a distância surgiu no século XVIII, o marco inicial dessa nova modalidade de ensino é um anúncio publicado no jornal Gazeta de Boston, no dia 20 de março de 1728, pelo professor de taquigrafia Cauleb Phillips. O referido anúncio dizia que “Toda pessoa da região, desejosa de aprender esta arte, pode receber em sua casa várias lições semanalmente e ser perfeitamente instruída, como as pessoas que vivem em Boston”³.
No entanto, apesar das teses que sugerem o aparecimento da EAD em períodos anteriores ao ano de 1800, não resta dúvida que foi durante o século XIX que a educação a distância apareceu pela primeira vez de forma organizada, com o surgimento de escolas por correspondências e com o início da participação de universidades nessa modalidade de ensino. Assim, é necessário apresentar alguns marcos importantes no desenvolvimento da educação a distância no século XIX: em 1833, um anúncio publicado em periódico na Suécia já se referia ao ensino por correspondência; em 1840, na Inglaterra, o senhor Isaac Pitman iniciou o ensino de taquigrafia por correspondência; em 1856, em Berlim, a Sociedade de Línguas Modernas se tornou a primeira instituição a oferecer cursos a distância ao iniciar o ensino de francês por correspondência; em 1873, surge em Boston, nos Estados Unidos, a Sociedade para Promoção do Estudo em Casa (Society to Encourage at Home); em 1874, a Illinois Wesleyan University aparece como a primeira universidade aberta no mundo, iniciando cursos por correspondência; em 1883, o estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos, autorizou o Chatauqua Institute a conferir diplomas para cursos por correspondência; em 1891, a Universidade de Wisconsin também passa a organizar cursos por correspondência; em 1892, a Universidade de Chigago, nos Estados Unidos, criou o seu Departamento de Ensino por Correspondência.
No século XX, a educação a distância continuou avançando no mundo. No ano de 1911, a Universidade de Quensland iniciou a experiência com o ensino por correspondência. Em 1922, a antiga URSS também organizou um sistema de ensino por correspondência e em 1938 ocorreu a Primeira Conferência Internacional sobre Educação por Correspondência. A partir daí, cada vez mais países foram adotando a educação a distância: África do Sul, Canadá, Japão, Bélgica, Índia, França, Espanha, Venezuela, Costa Rica, Israel, Portugal, etc. Nesse período de crescimento da EAD no mundo durante o século XX, destaca-se a criação da Open University, em 1969, na Inglaterra. Nos dias de hoje, a educação a distância existe em praticamente todo o mundo.
No Brasil, a educação a distância só surgiu no século XX. Até meados do século passado os cursos eram oferecidos por correspondência ou utilizando transmissões de emissoras de rádio. A partir de 1960 surgiram também algumas iniciativas que ofereceram cursos pela televisão. E durante todo o século XX, o poder público praticamente ignorou a educação a distância, pois as iniciativas governamentais para desenvolver a modalidade foram bastante tímidas. Assim, enquanto a educação a distância avançava no mundo, no Brasil essa modalidade de ensino caminhava a passos muito lentos. Somente no final do século XX e início do século XXI esse quadro começou a se alterar e a EAD passou a apresentar um crescimento significativo.
Em relação ao ensino por correspondência durante o século XX, destacaram-se as chamadas Escolas por Correspondência, que publicavam anúncios em revistas e jornais e utilizavam os serviços dos correios para desenvolverem seus cursos. Essas escolas eram instituições privadas e seus cursos eram pagos. Nesse tipo de ensino por correspondência destacaram-se a criação do Instituto Monitor, em 1939, e do Instituto Universal Brasileiro, em 1941. Numa pesquisa em apenas 11 revistas das décadas de 70 e 80, foi possível encontrar anúncios de 22 escolas por correspondência, entre elas o Instituto Universal Brasileiro, Instituto Monitor, Escolas Associadas, Divulgação Brasileira de Cursos, Instituto Nacional de Cursos Técnicos, Dom Bosco Escolas Reunidas, Instituto Cosmos, Glamour Ltda, entre outros.
No que diz respeito a utilização do rádio e da televisão para orientar cursos a distância no Brasil do século XX, podemos destacar o seguinte: a criação da Rádio Escola Municipal no Rio de Janeiro, em 1934; a instalação do Serviço de Radiodifusão Educativa do MEC, em 1937; a criação da Universidade do Ar, em 1941; a instituição do SIREMA – Sistema Rádio-Educativo Nacional, em 1957; a criação das Escolas Radiofônicas do RS, em 1958; as Escolas Radiofônicas de Natal, em 1959; o Movimento de Educação de Base – MEB – que previa a ampliação das escolas radiofônicas no Nordeste; a criação da TV Educativa do MEC, em 1964; criação da Fundação Padre Anchieta – TV Cultura, em 1964; criação da TVE do Maranhão, em 1969; a criação da ABT – Associação Brasileira de Tele-Educação, em 1971; criação do PRONTEL – Programa Nacional de Tele-Educação, em 1972; o MOBRAL – João da Silva, em 1979; implantação do Telecurso de 1º Grau da Fundação Roberto Marinho, em 1981; instalação do Telecurso 2º Grau da Fundação Roberto Marinho, em 1985; o Projeto Minerva, que transmitia via rádio e televisão; o IRDEB – Instituto de Radiodifusão do Estado da Bahia; entre outros.
Na última década do século XX tem início um processo de mudanças em relação a EAD no Brasil. Em 1996, ocorre a aprovação da nova LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que instituiu a educação a distância no seu artigo 80. Antes disso, no ano de 1992, o MEC já havia criado a Coordenação Nacional de EAD. Além disso, as instituições de ensino superior começam a dar mais atenção a educação a distância: em 1995, a UFTM – Universidade Federal do Mato Grosso, inicia o curso de Licenciatura Plena em EAD; em 1996, a PUC de Campinas passa oferecer o curso de mestrado a distância; também em 1996, a Faculdade Carioca cria a UNIVIR – Universidade Virtual; em 1998, a Universidade Gama Filho inicia o curso de formação de docentes a distância; em 1999, a UFPR – Universidade Federal do Paraná cria seu Núcleo de Educação a Distância.
Mas transformação definitiva veio nos primeiros anos do século XXI. O Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, regulamentou a EAD no Brasil promovendo um grande impulso nessa modalidade de ensino. Também em 2005, o Governo Federal criou a UAB – Universidade Aberta do Brasil, a primeira universidade pública destinada exclusivamente ao ensino a distância. Assim, o poder público passou a dar um maior apoio a modalidade, promovendo um crescimento extraordinário da EAD no país.
Ricardo Alexandre Pereira
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[1] ARAÚJO, Suely Trevisan e MALTEZ, Maria Gil Lopes. Educação a Distância: Retrospectiva Histórica. Revista Nexus, número 7, ano IV, sem data. Disponível em: http://www.virtuallcursos.com.br/historiaead.php. Acesso em: 5 out. 2009.
[2] RODRIGUES, Rosângela Schwarz. Histórico da Educação a Distância. 1998. In: Modelo de Avaliação para Cursos no Ensino a Distância: estrutura, aplicação e avaliação. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Disponível em: http://www.escolanet.com.br/sala_leitura/hist_ead.html. Acesso em: 5 out. 2009.
[3] Informação localizada na Wikipédia Enciclopédia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org. Acesso em: 5 out. 2009
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