domingo, 23 de junho de 2019

VIOLÊNCIA CONTRA OS PROFESSORES: A OMISSÃO NÃO VAI RESOLVER O PROBLEMA

A professora Márcia Friggi expôs em seu facebook a agressão sofrida por um 
aluno, adotando uma postura de exceção em relação a maioria dos educadores
que preferem se silenciar em casos de violência como esse. Tal fato ocorreu em
uma escola pública de Santa Catarina em 2017. Foto: Reprodução/Facebook

  A violência contra os professores é uma triste realidade nas escolas  brasileiras, principalmente nas unidades da rede pública de ensino. Agressões físicas, verbais, psicológicas, danos ao patrimônio e constrangimentos virtuais, se tornaram tão comuns no ambiente escolar que a violência se tornou banal entre os profissionais da educação. E para piorar, professores, escolas, sistemas de ensino e familiares parecem estar em estado de inércia diante dessa situação, não se vislumbrando qualquer tipo de reação para enfrentar a questão. Mas uma coisa é certa, essa paralisia e omissão dos responsáveis pela educação de nossas crianças e adolescentes não vão ajudar a resolver o problema dos ataques aos educadores. Portanto, é preciso reagir rápido para enfrentar e reverter esse cenário catastrófico.   
  
  Segundo dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Teaching and Learning International Survey - TALIS), realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o país do mundo onde mais se pratica violência contra professores. Xingamentos, socos, pontapés, arremesso de objetos, facadas, vandalismo no veículo, ataques em redes sociais, intimidação e até ameaças de morte, são situações corriqueiras no cotidiano das escolas pelo país. A presença de estudantes embriagados, sob efeito de substância ilícitas, armados e traficando drogas no ambiente escolar, têm potencializado as situações de agressividade e enfrentamento dos jovens contra os docentes. Um detalhe que chama a atenção é que as agressões contra os educadores não são praticadas apenas por alunos, mas também por seus pais e familiares, até mesmo por conta de notas baixas ou reprovações. Aliás, a fragilidade ou inexistência da parceria entre família e escola, provocada por pais ausentes e desajustes familiares, é um dos fatores do agravamento do problema da violência em sala de aula. Enfim, o quadro de violência contra professores no Brasil é alarmante.

   Acontece que o desrespeito, o enfrentamento, as ameaças e agressões se tornaram tão comuns na rotina escolar que muitos professores se acostumaram com a situação. Sem saber como proceder, sem respaldo de ninguém e acreditando que não há muito o que fazer diante de situações de violência em sala de aula, os docentes preferem relevar os ataques sofridos, ignorar as atitudes do aluno e fingir que o problema não existe. Até em casos mais graves, de agressão física ou ameaças de morte, muitos educadores preferem não registrar boletim de ocorrência com medo de sofrer novas represálias e mais violência. Infelizmente, a realidade que vivemos hoje no Brasil é de uma situação de banalização total da violência contra os professores. No entanto, não é possível continuar trabalhando nesse clima de tensão e stress, é preciso reagir e enfrentar o problema de frente. Silenciar diante de uma agressão e não tomar medida alguma não é a melhor forma de resolver a questão da violência no ambiente escolar.

  Por sua vez, as escolas também não estão sabendo agir em situações de violência e acabam adotando medidas na tentativa de se livrar do problema ou para abafar os casos de indisciplina. É comum a direção da escola orientar professores para aprovar alunos indisciplinados e violentos com a finalidade de se livrar do “problema” o mais rápido possível. Em casos extremos, é prática costumeira a direção agir para tentar amenizar o episódio de conflito, induzindo o professor a não registrar boletim de ocorrência com o objetivo de abafar o caso e evitar a geração de publicidade negativa a escola. Há ainda aquelas situações nas quais a direção convida os pais ou responsáveis para transferir o aluno de escola. Enfim, todas as ações são realizadas na perspectiva de se livrar do problema ou fingir que ele não existe, ao invés de enfrentar e tentar resolver a questão. Na verdade, percebe-se claramente que a maioria das escolas não possuem planos, projetos ou programas visando a prevenção e o combate a violência escolar.
  
   Essa omissão de professores e diretores em registrar e enfrentar os casos de violência na sala de aula tem gerado uma subnotificação desses episódios. Tal omissão pode ser estendida aos sistemas de ensino, que não realizam o registro sistemático dos episódios de violência ocorridos nas escolas de suas redes, não desenvolvem estudos internos visando promover um adequado diagnóstico do problema e não executam planos de ações visando a prevenção e o combate a violência em sala de aula. A verdade é há uma grande falta de atenção a temática da violência contra educadores no sistema educacional brasileiro. Assim, temos uma omissão coletiva, na qual todos sabem da existência do problema, mas ninguém toma providências no sentido de resolver a questão. Pois bem, se as pesquisas já colocam o Brasil como o primeiro do ranking em violência contra os professores, mesmo com essa subnotificação das ocorrências, imaginem então se todos os casos fossem devidamente registrados?! Isso nos leva a crer que a situação de violência contra os docentes pode ser ainda mais grave do que apontam os estudos recentes.  
      
  Tal situação de omissão e falta de ação em relação ao tema da violência contra os professores não pode ser prolongada, é preciso reagir e enfrentar a questão de frente, urgentemente. Os profissionais da educação não podem aceitar passivamente esse cenário de banalização da violência na escola, pois atos violentos contra educadores não podem ser encarados como algo comum e sem importância. Os sistemas de ensino e as escolas não podem continuar inertes em relação ao registro, estudo, prevenção e combate a violência contra os docentes. As famílias não podem permanecer ausentes e indiferentes aos episódios de ataques cometidos por seus filhos contra os professores. Está evidente que se omitir e fingir que o problema não existe não é o melhor caminho para solucionar esta grave situação presente no ambiente escolar. Certamente, a omissão dos atores envolvidos no processo educacional não vai contribuir para resolver o problema da violência contra os professores. Portanto, é necessário que haja uma mudança de postura em relação as agressões, é preciso agir, sem medo e rápido!

Alunos atacam professora e destroem sala de aula em escola estadual
de Carapicuíba/SP. O episódio só veio a público após um vídeo gravado
pelos próprios estudantes viralizar nas redes sociais, caso contrário seria
 mais uma ocorrência abafada e silenciada no sistema de ensino paulista.
Foto: PC - Portal Carapicuíba 

Ricardo Alexandre Pereira